No começo, o Fiat Uno pareceu estranho e chegou a ser apelidado de “ botinha ortopédica”. Mas seu estilo quadrado garantia um excelente espaço interno e o modelo virou sucesso.
O primeiro carro feito pela Fiat no Brasil foi o caixotinho 147. Mas não demorou muito para a marca escrever sua história da indústria automobilística do país. Isso aconteceu com o lançamento da Uno, o primeiro “carro mundial” da fabricante. O Uno foi concebido na Itália para substituir o modelo 127(que dera origem ao 147 brasileiro).
A apresentação ao mundo, em janeiro de 1983, foi sideral: teve como cenário o Cabo Canaveral, na Flórida, a base de lançamentos espaciais da Nasa.
O Fiat Uno era um conceito simples e inteligente. Suas linhas quadradas conferiam um surpreendente espaço interno para um hatch de seu tamanho. O modelo tinha motor transversal, tração dianteira e suspensão McPherson na frente e com eixo de torção atrás. De cara foi eleito Carro do ano na Europa.
No Brasil, o Uno chegou logo depois, em 1984. Era quase igual ao europeu, mas trazia capô mais envolvente, o que abria espaço para levar estepe dentro do cofre do motor. A suspensão traseira também era diferente.
O Uno estreou boas soluções no Brasil. Os bancos dianteiros ficavam mais baixos quando estavam recuados, seguindo a lógica de que pessoas mais altas têm pernas mais compridas. Os comandos de faróis e limpador do para-brisa ladeavam o quadro de instrumentos, permitindo o acionamento sem tirar as mãos do volante. Por sua silhueta, a carroceria era chamada de “botinha ortopédica”.
Naqueles tempos, havia muito preconceito contra os Fiat no Brasil. Com seu jeitão diferente e inovador, o Uno demorou a decolar em vendas.
A primeira versão realmente quente surgiu apenas em 1987: era o Uno 1.5R. Tinha faixinhas nas laterais e rodas mais largas. Mas o que realmente dava personalidade ao carro eram o spoiler traseiro e a tampa do porta-malas pintados de preto fosco. Por dentro cintos de segurança e detalhes no bancos na cor vermelha. Seu painel trazia conta-giros. Um detalhe curioso é que, inicialmente, os 1.5R eram equipados com calotas que lembravam o disco de telefone. Somente no modelo de 1989 é que vieram os aros de liga leve. O motor era mesmo 1.5 Sevel argentino a álcool do Prêmio, o sedã derivado do uno careta. Mas com comando de válvulas mais brabo, taxa de compressão elevada e carburador de corpo duplo, alcançava 86cv.
Com essas especificações, o Fiat superava em desempenho o Ford Escort XR3, esportivo mais famoso da época. Além de ser mais leve, era mais estável e espaçoso que o Escort- e ainda custava bem menos... O 1.5R foi produzido entre 1987 e 1989.
Hoje, 27 anos após o lançamento no Brasil, a carroceria de linhas retas ainda sobrevive na básica versão Mille. Neste período, o Velho Uno e seus derivados já tiveram mais de 3 milhões de unidades produzidas em Betim. E mais: a Fiat, que era o patinho feiodo mercado, hoje lidera as vendas de automóveis no país. Um largo passo para uma “botinha ortopédica”.
